João Henrique Pinto, natural do Barreiro, define-se como um “camarro de gema”. Sempre sentiu uma grande paixão pelo mar e por todo o tipo de atividades náuticas, desde o remo até à natação. O surf entrou na vida do designer de equipamentos quando tinha 15 anos e tornou-se uma “espécie de dependência”.
“Não ir para a água faz-me uma falta terrível; é como se estivesse a sufocar”, confessa à NiT. O interesse pela vela surgiu mais tarde, bem como o desejo de proporcionar uma variedade de atividades náuticas de lazer que explorassem as características urbanas e geográficas da cidade onde nasceu.
Aos 45 anos, João decidiu unir as suas paixões, tanto no âmbito profissional como no pessoal, e lançou o projeto Cais das Gaivotas, com o intuito de dinamizar a região. Embora esta ideia tenha surgido há alguns anos, foi apenas há cerca de três que “ganhou coragem” para a apresentar à autarquia.
“Há cerca de três anos, falei com o vice-presidente e outros membros do executivo para avaliar se havia interesse. Gostaram da ideia e encaminharam-me para a Startup Barreiro”, explica. O projeto conquistou o primeiro lugar no bootcamp organizado pela incubadora de negócios do município em junho de 2022, marcando assim o início de uma nova jornada.
Nos dois anos seguintes, João dedicou-se ao desenvolvimento da ideia e à resolução de diversos processos. No dia 14 de julho, foi inaugurada a primeira fase do projeto, que inclui gaivotas a pedal e barcos a remo. Esta nova atividade de lazer está a ser desenvolvida na Caldeira do Alemão.
“Inicialmente, a intenção era instalar o projeto na Praia de Alburrica, mas como não tem Bandeira Azul não tínhamos autorização para o fazer. A autarquia, entretanto, sugeriu-me esta caldeira e percebi que tinha condições muito favoráveis, como a ausência de correntes”, revela.
Mesmo durante a maré baixa, o espelho de água mantém-se, uma vez que é possível controlar a comporta. Assim, João iniciou os passeios de gaivota, uma “novidade na cidade”. A ideia de apostar nestes barcos a pedais surgiu após várias viagens à Alemanha com a família.
“Achei muito interessante porque, no norte do País, muitos corpos de água são bem explorados com este tipo de atividades, em que a maioria utiliza gaivotas. O Barreiro também possui um imenso potencial, por isso, decidi incorporar a ideia”, acrescenta o designer de equipamentos.
Os passeios estão disponíveis durante todo o ano, com cinco gaivotas para alugar, cada uma para duas pessoas. Em breve, serão acrescentadas novas embarcações, algumas com quatro lugares, além de dois barcos a remo. Os preços são 10€ por meia hora e 18€ por uma hora e as reservas podem ser feitas através das redes sociais ou no local.
Esta atividade representa apenas a primeira fase de um projeto ainda em desenvolvimento. Antes do final do ano, provavelmente no final de setembro ou início do próximo mês, João planifica lançar passeios de vela no estuário do Tejo, que se tornará a primeira experiência marítimo-turística a operar diretamente do Barreiro.
Os passeios de veleiro
As viagens serão feitas a bordo do Velho do Tejo, veleiro que adquiriu na Alemanha em 2020, sem saber que se tornaria uma das peças centrais do Cais das Gaivotas. Apenas falta a instalação de uma plataforma para embarque. “Como não existe marina no Barreiro, há uma limitação significativa. O barco ficará a meio do rio, e os passageiros serão transportados por uma embarcação de apoio”, revela.
O veleiro pode acomodar até seis passageiros em passeios que podem ser totalmente personalizados, permitindo que os clientes escolham a duração e o itinerário. Além disso, os visitantes terão a oportunidade de pernoitar no Velho do Tejo, mesmo no coração do rio. O barco dispõe de duas camas de casal e uma de solteiro, com preços a serem anunciados em breve.
O barco-hotel
A terceira fase do projeto, que exigirá mais tempo para ser concretizada, consiste na criação de um alojamento turístico e espaço para eventos. João ambiciona transformar um antigo barco da Soflusa, que anteriormente fazia a travessia entre Barreiro e Lisboa, num moderno e acolhedor barco-hotel.
“Há uns anos, os barcos de casco fundo foram substituídos por catamarãs, que deverão ser trocados por embarcações elétricas em breve. A partir daí, surgiu a ideia de contactar a Soflusa para averiguar a possibilidade de cederem um dos barcos mais antigos”, explica.
Situado na zona ribeirinha, o barco-hotel terá um interior totalmente renovado, destinado à criação de alojamento turístico, que também contará a história e a relevância da empresa de transporte fluvial. João quase conseguiu um dos barcos da Soflusa, o São Jorge, que tinha capacidade para mil pessoas, mas acabou por ser vendido — não conseguiu encontrar um local para ancoragem em tempo útil.
O projeto é uma certeza, embora o número de quartos e demais características dependa das dimensões do barco que João conseguir arranjar.