Aos cinco anos começou a jogar basquetebol no Futebol Clube Barreirense. Nos 15 anos que se seguiram, foi nomeado capitão de equipa em todos os escalões, chegando mesmo a representar as seleções distritais de sub-14 e sub-16 e a equipa nacional de basquetebol. Poderíamos estar a falar de Neemias Queta, o atleta que também passou pelo clube do Barreiro e é, neste momento, o único português a jogar na NBA. Mas esta história é mesmo de Frederico Costa Rosa, o presidente da Câmara Municipal do Barreiro, que trocou uma das suas paixões para tomar as rédeas daquela que é a “sua casa”.
Nascido no Barreiro há 46 anos, Frederico Costa Rosa é licenciado em Comunicação Social e Cultural pela Universidade Católica Portuguesa. A propósito do lançamento da New in Barreiro na passada segunda-feira, 6 de janeiro, a nova revista de lifestyle do concelho, falámos com o presidente da Câmara Municipal do Barreiro, que revelou alguns dos principais projetos que estão a chegar à cidade e a sua ligação ao concelho que considera ser a sua “casa”.
O que é que sente ao saber que um grupo, com a dimensão da NiT, decidiu apostar na criação de uma revista de lifestyle exclusivamente focada no Barreiro?
Este projeto dá-nos aquele sentimento de saber que temos aqui tanta coisa e vamos poder destruir o estigma, mostrando que o Barreiro não é uma ‘terra cinzenta e poluída, que fica longe’. Acho que vai ter um efeito de alavancagem ao partilhar boas histórias e divulgar as melhores sugestões para passarmos o tempo com a família e os amigos. Gostava de dizer que há muita gente que faz isso, mas não há. Quando me falaram da NiT, soube que era o casamento perfeito entre propósitos.
O que significa, para si, ser do Barreiro?
Para mim, o Barreiro é, acima de tudo, sinónimo de casa. Não tenho família do lado do meu pai, ele cresceu com um padrasto e uma madrasta. Apesar de não ter nascido aqui, veio para o Barreiro com meses. Para ter uma ideia, entre os dez ou 12 anos, até por volta dos 23, nunca fui de férias para lado nenhum, porque os meus pais não tinham essa possibilidade. Para mim, o Barreiro era a minha casa. Eu morava na rua, onde se encontra o atual Fórum Barreiro e saía de casa e brincava, como toda a gente, aos polícias e ladrões nos terraços atrás do centro comercial, ia para o Barreirense jogar basquetebol, para o Bairro 6, ou seja, é o meu espaço de conforto. Ainda hoje, quando vou a qualquer lado e passo ali na Via Rápida e vejo ‘Barreiro’, é aquele sentimento de que cheguei a casa. Isto é uma coisa difícil de explicar, mas é um sentimento de pertença muito grande.
Tendo essa ideia daquilo que é o Barreiro neste momento, como é que gostaria que fosse?
Se calhar é mais fácil responder ao contrário. Não gostaria que o Barreiro fosse um sítio indiferente, ou seja, gosto muito do Barreiro como um ponto de encontro, aquele sítio onde saímos de casa, bebemos um café e sabemos que vamos encontrar alguém. O Barreiro sempre teve muita vida, personalidade, associativismo, cultura, do desporto, então nem se fala. Quero muito que o concelho rejuvenesça, cresça, que se reconstrua, que é algo de que precisa, mas que nunca perca esta sua essência porque, no final de contas, é isso que nos diferencia, e não quero abrir mão disso. Desejo que o meu filho também sinta que o Barreiro é a casa, independentemente de onde mora, que é aqui que encontramos os nossos amigos. Somos todos família e não tenho dúvidas de que, com esta autenticidade quase crua, um dia seremos uma referência na área metropolitana.
Há muitas pessoas a mudarem-se para o Barreiro, à procura de condições melhores, tendo em conta o contexto do setor da habitação que existe no nosso País. Como é que a autarquia lida com a subida dos preços das casas e como é que recebe essas pessoas que vêm, por exemplo, de Lisboa?
O Barreiro é feito de pessoas que vieram à procura de uma vida melhor, por causa da fábrica e dos caminhos de ferro. Portanto, é uma terra que se fez porque acolheu pessoas. Quando entrei aqui na Câmara, não se via uma grua na zona, ao contrário do que acontece agora, que já se veem muitas. Ninguém tem a bala de prata que vai resolver os problemas todos, mas acreditamos, e mais do que acreditar, estamos a pôr um plano em prática. Por um lado, aumentar a oferta de habitação no Barreiro, ou seja, se temos um parque habitacional reduzido, e há mais gente à procura, quer dizer que os preços vão aumentar. Sabemos que a tendência geral é esta, e não estamos, de todo, imunes a isso. Assim, tentamos dar três tipos de respostas. A primeira é, obviamente, fazer com que os investidores acreditem e façam, aqui, o investimento privado na habitação. E já há muita oferta. Depois, dois eixos que são aqueles que dizem mais diretamente respeito à autarquia e que têm a ver com a resposta de habitação social, no qual estamos a fazer, se calhar, o maior investimentos de sempre e com o arrendamento acessível, que não existia anteriormente. Esta última opção é dirigida a dois grandes públicos: a população mais jovem que pretende sair de casa dos pais, a classe média, cada vez mais representada por famílias monoparentais, que contam apenas com um ordenado para fazer face a todas as despesas. Queremos muito dar resposta a estes segmentos.
O que é que já está a ser feito nesse sentido?
Existe um concurso público para as primeiras 202 habitações de arrendamento acessível em terrenos autárquicos. Temos, ainda, cerca de 150 a 170 projetadas, também para terrenos autárquicos, para habitação acessível. Além disso, há um investimento privado, a partir do qual conseguimos influenciar o construtor a fazer o arrendamento para a autarquia, e não aberto, para que o município possa disponibilizar essas habitações para arrendamento acessível. E, neste caso, são mais de 300 casas. Ou seja, se juntarmos tudo, para quem tinha zero, ficamos com uma resposta robusta. O problema é que as casas não nascem de um dia para o outro e o problema das pessoas é hoje. E isso é algo que nos aflige. No entanto, sabemos que se nunca fizermos este caminho, nunca mais lá chegaremos.
Todas estas intervenções só são possíveis porque o Barreiro tem, aparentemente, uma situação financeira estável, ou boa. Como é que as contas se mantêm equilibradas?
Primeiro, temos uma equipa muito forte no que diz respeito a fundos comunitários e ao PRR, que começou a trabalhar muito antes do PRR estar visível, para nos prepararmos para concorrer a tudo. Também somos muito competitivos, temos ganho muito nos concursos abertos porque temos gente extraordinária a trabalhar aqui. Depois, é aquela velha máxima: temos de criar riqueza para distribuir riqueza. E o que temos conseguido na Câmara é, por um lado, trazer verbas comunitárias, sermos mais eficientes internamente, para gerar mais capacidade de investimento próprio extra verbas comunitárias. Um exemplo disso são os Transportes Coletivos do Barreiro (TCB), que vão dar lucro este ano. Quando se faz um investimento público, é preciso ser-se muito criterioso, o que resulta na capacidade de aliar o público com o privado, gerar receitas e conseguir mais dinheiro para as próximas intervenções. Essa tem sido a lógica. Também há anos nos quais não temos investimento privado por cima do nosso investimento, mas a lógica é a mesma. O dinheiro é finito, a Câmara do Barreiro tem uma situação financeira estável, mas ainda precisa de investir muito mais, porque tem muitas deficiências. Como é que se consegue não tendo nenhuma varinha mágica? É fazendo com modelo e com rigor.
Nos últimos anos, que medidas foram tomadas para captar a atenção das pessoas e desenvolver a cidade?
Um exemplo perfeito é o Mercado 1.º de Maio. A primeira vez que tentámos realizar uma intervenção para a modernização do espaço e introduzir alguns restaurantes, à semelhança do Time Out, em Lisboa, foi há cerca de cinco anos e o projeto não correu bem. Era uma rutura com aquilo a que as pessoas estavam habituadas. Agora, conseguimos fazer este caminho, as pessoas têm ali uma oferta e o mercado conta com praticamente 100 por cento de ocupação, meta que antes era impensável. É um ponto de encontro barreirense, que recebe pessoas de todo o lado. No que diz respeito à cultura, que é um ponto essencial, decidimos fazer acordos plurianuais, a partir dos quais recebemos verbas e a responsabilidade de programar. Tem sido uma grande aposta.
Falando especificamente nessa área, o que é que está previsto para 2025?
Vamos ter o Outfest, que é um festival completamente diferenciador, que traz pessoas de todo o lado, de todas as nacionalidades, e é fruto do primeiro acordo plurianual da cultura que fizemos. O Barreiro Rocks, que teve uma interrupção, vai renascer este ano, também com contrato plurianual. Além disso, vamos continuar com duas âncoras que têm sido muito importantes para nós. As festas do Barreiro, que se transformaram nos últimos anos e que registaram um aumento substancial no número de bilhetes vendidos na margem norte. E depois, um produto muito engraçado, se calhar um dos de maior sucesso, que é o Jazz no Parque. O festival tem um ambiente brutal e já me disseram que o cartaz deste ano é de topo mundial. Ou seja, é um festival de sucesso aqui e seria de sucesso se fosse em Chicago.
O presidente esteve mais de 20 anos ligado ao desporto, mais concretamente ao basquetebol. Quais são os planos da autarquia para este setor?
Temos vários pavilhões, incluídos em parcerias que fizemos que vão abrir agora. Mas há um, que não é só desporto, é um desejo muito antigo: um pavilhão multiusos. O projeto vai permitir que as nossas equipas joguem num palco grande, mas também, vamos poder receber as mais variadas competições, concertos, feiras, entre outras iniciativas. E, já tendo a melhoria na restauração, para estas pessoas todas poderem ir almoçar, fica a faltar outro elo: termos um hotel. Por isso, vamos agora disponibilizar dois terrenos para fazer o concurso público para que ele seja construído. Também vai começar a ser construído um Clube de Padel indoor no início deste ano. O projeto está ligado ao Renato Sanches, jogador de futebol, e o Clube vai ter capacidade para receber as maiores competições internacionais.
E no que diz respeito à sustentabilidade, qual é o plano?
Sustentabilidade é um palavrão muito grande e nós tentámos sempre, ainda antes de ser mediático, partir em várias ações que são muito concretas. Primeira questão e, muito importante, é a plantação de árvores em contexto urbano, para diminuir a temperatura e para a retenção de águas. Também criámos grandes zonas de máxima infiltração, para promover o escoamento. Temos ainda um projeto para reduzir as emissões. Transformámos os autocarros, que ainda eram abastecidos com combustível tradicional, para gás e substituímos toda a iluminação do Barreiro para luzes LED, que antes eram de mercúrio.

E os espaços verdes?
Começámos pelo Pólis e pelo passeio ribeirinho António Cordeiro, que têm ganho prémios a nível nacional, frequentemente. A última intervenção foi limpar uma zona de entulhos na Avenida do Bocage, que está, neste momento, a ser renaturalizada. É um processo, que será algo como uma micro Mata da Machada. Já temos, também, o projeto fechado para refazer o Parque dos Franceses. Estamos só à espera que as obras da zona terminem.
Passando agora para um tema bastante discutido. Já existe a Ponte 25 de Abril, a Ponte Vasco da Gama. Qual a sua opinião em relação à possível construção da terceira ponte sobre o Tejo?
Acho que é uma inevitabilidade, que vai trazer muitos aspetos positivos, mas também desafios, nomeadamente o desafio deste crescimento sustentável que ambicionamos. Aliás, mais do que sustentável, mas um crescimento equilibrado. Acho que a palavra mais certa é esta. E não é só a Ponte. Há dois projetos que são decisivos para toda a margem sul: a terceira travessia e o metro sul do Tejo. Porque nós pensamos sempre nas deslocações daqui para Lisboa e não pensamos, muitas vezes, em como é que nos deslocamos aqui, como é que chegamos, por exemplo, à Costa de Caparica ou a Alcochete. E isso é fundamental.
Há previsões?
Aquilo que nós sentimos, porque as previsões não estão no âmbito das autarquias e vivem daquilo que os governos fazem, é que este já é o segundo governo consecutivo onde estas questões estão a ser trabalhadas e não foram abandonadas. Por isso, e quase em salto de fé, acho que vamos mesmo ter terceira travessia e um metro sul do Tejo.