A primeira nota do Tukina Festival 2025 não foi tocada num palco. Foi ouvida no silêncio pesado que se seguiu ao ruído das escavadoras, na primavera de 2024. Entre 24 e 26 de outubro, na ADAO – Associação Desenvolvimento Artes e Oficios, o Tukina Festival é a resposta cultural a uma demolição. É o som de uma comunidade a decidir que, mesmo quando a casa de um homem é reduzida a escombros, o seu lar cultural permanece de pé.
Num fim de semana inteiro, condensam-se 30 atuações. A cidade transforma-se num palco vivo, onde cada batida a ecoar do soundsystem é um ato de resistência e solidariedade.
O festival é o culminar de um movimento que nasceu do luto. Tudo começou quando amigos e músicos se uniram para apoiar António Paulo, o lendário “Selecta Toy Kool”, pioneiro do reggae em Portugal. Vindo de Angola e radicado no Barreiro desde 2017, Toy Kool viu a sua casa e santuário cultural no Bico do Mexilhoeiro ser demolida, enquanto enfrentava graves problemas de saúde respiratória, em estado de coma no hospital Amadora-Sintra.
Desde então, a comunidade respondeu com festas solidárias, um gesto de apoio que rapidamente germinou num movimento — o Tukina, que significa “vamos dançar” em kimbundu — e que agora floresce neste primeiro festival, na ADAO, com o bilhete diário a 10€ e o passe para os três dias a 25€.
Aqui, o palco é apenas um dos cenários. Enquanto os ritmos roots, género nascido da resistência, ecoam, rodas de conversa, exposições de arte e workshops discutem e celebram a vida comunitária que lhes deu origem.
A gastronomia partilhada é o combustível, a luta de Toy Kool são o espírito guia. O Tukina não é um simples tributo, mas um organismo vivo e pulsante, construído com coragem e partilha com generosidade, numa força que nenhum decreto de demolição pode calar.
A história que se desenrola no Barreiro é um microcosmo de um conflito global: a luta entre o valor de um lugar na memória coletiva e o seu preço no mercado. O Tukina Festival é a vitória temporária, mas profunda, do primeiro sobre o segundo. Transforma a solidão de uma batalha individual no coro de uma comunidade, demonstrando que as histórias verdadeiras, quando regadas pela solidariedade, encontram sempre uma nova forma de ecoar.
Durante três dias, a partir das 18 horas, os visitantes são convidados a fazer parte desta narrativa. Através de concertos, atividades culturais e experiências gastronómicas, todos podem saborear a memória e a criatividade que definem este lugar.
A viver numa caravana, na região de Sintra, desde que foi desalojado, a conhecida lenda do reggae português volta a casa por três dias. O objetivo é que volte, um dia, por tempo indeterminado.

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