As “Três Marias” tornaram-se conhecidas em 1971, quando assinaram a obra “Novas Cartas Portuguesas”, considerada “um marco da literatura portuguesa”. Através do livro, que só viria a ser publicado em abril do ano seguinte, Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa denunciaram vários temas que marcavam o panorama nacional da altura, entre os quais, a opressão das mulheres.
Três dias após a publicação, o regime ditatorial ordenou que o livro fosse banido e as autoras foram a julgamento, em 1973. A Revolução de 25 de abril de 1974 acabou por salvá-las da condenação e o “Novas Cartas Portuguesas” voou além fronteiras, com o apoio de figuras como Simone de Beauvoir, Marguerite Duras e Doris Lessing.
O impacto foi tão grande, que deu origem a manifestações feministas em várias embaixadas portuguesas por esse mundo fora, num caso que foi considerado como “a primeira causa feminista internacional”. Mais de 50 anos depois, a história das “Três Marias” continua viva e inspirou a criação de uma peça coreográfica que vai passar pelo Auditório Municipal Augusto Cabrita (AMAC), no Barreiro.
O espetáculo está marcado para o dia 11 de janeiro, sábado, às 21h30. A entrada é gratuita e apenas permitida a maiores de 12 anos.
“Carta ao Corpo que Luta”, com interpretação de Beatriz Mira e coreografia de São Castro, é uma “carta escrita por uma mulher ao corpo que luta — o dela, e o de todas — como um diálogo íntimo entre corporeidades, promovendo uma reflexão sobre as lutas inscritas nos corpos, ecoando revoluções do passado que ainda se manifestam no presente”, explica a organização.
Do amor à resistência, passando por temas como a opressão e a identidade, a peça, com uma duração aproximada de 45 minutos, é uma exploração do corpo como “primeiro campo de batalha” e “lugar preferencial da denúncia”, destacando valores fundamentais, como a liberdade e a igualdade.