Apesar de ser, em teoria, o mais desejado, o plano A nem sempre nos leva ao destino. Que o diga a barreirense Telma Carapeta Almeida, de 40 anos, que chegou a pensar que os números seriam o foco do seu dia a dia para sempre, depois de se formar em Gestão, na Universidade Lusíada de Lisboa, em 2006. Porém, uma coincidência acabou por lhe trocar as voltas. É a fundadora do projeto “Nuvem de Pano”, um nome que pode já não refletir tudo aquilo que faz, mas que permanece como marca de um percurso criativo e resiliente.
“Fui trabalhar com os meus pais, que tinham uma empresa dedicada ao design de interiores, mais especificamente às cozinhas e roupeiros, no Barreiro. A minha mãe tinha tido um problema de saúde e eu assumi a gestão enquanto ela estava hospitalizada. O plano inicial era de que fosse uma coisa para alguns dias”.
A certa altura, pediram-lhe que substituísse uma colaboradora que trabalhava na área da loja. “Não é que eu tenha gostado da ideia, mas aceitei, um bocadinho contrariada. E pronto, desde aí nunca mais voltei à gestão. Apaixonei-me pela possibilidade de criar, desenhar e dar largas à imaginação”, conta.
Durante anos, trabalhou como designer, sem ter qualquer formação na área. Em 2021, decidiu fazer um curso anual de design de interiores, em Lisboa, já com uma visão mais clara sobre o que queria — criar ambientes infantis únicos e personalizados. Por essa altura, já tinha lançado o Nuvem de Pano, um projeto online, que nasceu no final de 2015, depois de Telma ter vivido um ano em Inglaterra, três anos antes.
“Quando fui para lá, também trabalhei na área do design de interiores, focada nas cozinhas. Entretanto, regressei a Portugal e comecei a trabalhar numa empresa que produzia mobiliário”. No meio de tantas aventuras, chegaram as más notícias: Telma ficou doente.
“Desenvolvi uma doença crónica no intestino e precisei de repensar a minha vida e perceber o que é que ia fazer a seguir. Só sabia que não queria nada que estivesse relacionado com o design e com a área do mobiliário. Queria algo mais leve”. É nessa altura que surge o projeto Nuvem de Pano, que teve início com a costura, enquanto a barreirense ainda trabalhava na empresa de mobiliário. “Costurava protetores de berço, capas de edredão, almofadas, porta-fraldas, e outros artigos relacionados”. O nome, “Nuvem de Pano”, teve origem nas almofadas em forma de nuvem que Telma costurava.
Mais tarde, introduziu marcas e outros elementos decorativos. “Era mais decoração de interiores, porque eu não desenhava nada. Fazia conjugação de tecidos com tapetes e papéis de parede”. O facto é que a procura começou a aumentar e, em abril de 2017, Telma abriu uma loja física no Mercado Municipal 1.º de Maio, já depois de ter saído do anterior emprego.
O salto para o design completo de quartos para os mais pequenos aconteceu de forma inesperada. “Tinha clientes de várias zonas do País, que iam à loja encomendar alguns artigos. Um dia, uma cliente do Barreiro, que estava grávida, entrou no espaço, viu um roupeiro, um berço e uma cómoda que eu utilizava para expor os artigos e disse que queria que eu fizesse o quarto do bebé dela. Respondi que não fazia quartos, mas ela insistiu: ‘Gosto muito do seu estilo e quero mesmo que seja a Telma a planear tudo.’ Entretanto, acabei por fazer, publiquei nas redes sociais e, quando dei por mim, já só fazia quartos”.
“Apesar de não estar nos planos”, a paixão pela área começou a aumentar. Hoje, além de quartos infantis, Telma assina projetos de interiores para salas, quartos de adultos, escritórios e até clínicas. “Algumas clientes, para quem fazia quartos infantis, começaram a pedir que fizesse outros espaços da casa. Ainda assim, não me vejo a deixar os projetos para os miúdos. Para mim, é um mundo mágico, até pelas reações deles quando vêem os quartos prontos, que são espontâneas e muito bonitas”.
A evolução da marca levou à mudança de espaço, que se mantém o mesmo até aos dias de hoje. “Mudei-me precisamente na altura do confinamento, em março de 2020. Estava a terminar de organizar tudo lá dentro para abrir quando fomos obrigados a ficar em casa”. Apesar de não abrir de imediato, o negócio resistiu. “As pessoas já estavam muito habituadas a comprar online. Acho que esse hábito veio para ficar”.
Atualmente, a loja está em obras e reabrirá com um novo conceito. “Estou a transformá-la num atelier, um espaço para receber os clientes, para apresentação de projetos com amostras de cores, madeiras, tecidos e papéis de parede”.
O atendimento continua a ser efetuado por marcação e os serviços adaptam-se a cada cliente. “O meu trabalho começa sempre com a execução do projeto, que vai ao encontro das necessidades e preferências da família. Depois de o projeto ser apresentado e aprovado, é feito o orçamento para a execução. Não tenho um preço base porque tudo depende do tipo de proposta”, conclui.
Carregue na galeria e veja algumas imagens do projeto Nuvem de Pano.