Quando se entra pela porta da Cinderela Shoes, em plena Baía do Tejo, no Barreiro, percebe-se que este não é apenas mais um espaço de venda de calçado. No showroom, cada par de sapatos conta uma história e, muitas vezes, a concretização de um sonho que parecia impossível. A marca nasceu da experiência pessoal da fundadora, Teresa Henriques, de 53 anos, que sempre calçou o número 32 e nunca conseguiu encontrar, em sapatarias convencionais, sapatos que fossem ao mesmo tempo do seu tamanho e adequados à sua idade.
Natural do Barreiro, Teresa tem um percurso profissional tão multifacetado quanto a oferta que hoje disponibiliza no seu showroom. Trabalhou em fotografia e em informática. “Mais tarde, passei para a informática, tecnologias da informação, segurança e controlo de acessos. Foi quando pensei em largar este área que surgiu o meu velho sonho por realizar, o de disponibilizar calçado às ‘Cinderelas’ que não o tinham, eu incluída”.
A paixão pela fotografia levou-a a tirar um curso de fotografia com apenas 19 anos. “Depois, mais tarde, fiz a formação em audiovisuais. Devia ter 20 e tal anos”. A experiência profissional levou-a até Angola, onde esteve, inicialmente, um mês e pouco a dar formação em fotografia e a montar um laboratório e um estúdio. “Acabei por voltar para lá depois disso, a convite, e estive alguns meses a trabalhar para a empresa que me contratou. Posteriormente, fiquei com o negócio e criei uma empresa na área das tecnologias da informação”.
O espírito empreendedor acompanhou-a sempre. “Mesmo enquanto trabalhei em fotografia, cá em Portugal, tive sempre o bichinho de abrir a Cinderela Shoes. Na altura, queria que fosse em Lisboa, mas não se proporcionou, era praticamente impossível”.
A falta de oferta adequada na área do calçado foi sempre um obstáculo pessoal. “Como tenho 1,50 metros e calço o 32, não havia calçado adulto para os meus pés. Tinha de ir à secção infantil e, mesmo assim, nem tudo me servia. Escolhia sandálias ou o que estivesse disponível, porém, o problema é que os modelos de secção infantil são exatamente isso, são infantis. Se precisasse de ir a um jantar ou a uma cerimónia, não tinha calçado. Ou mandava fazer, ou então usava o velho truque que me ajudou durante muitos anos: calçado fechado com duas ou três palmilhas ou uns sapatos daqueles com tiras, para agarrar ao pé que, ainda assim, levavam um bocado de algodão à frente, para a biqueira não rebentar”, explica.
A necessidade e o desejo de ajudar outras mulheres levaram-na a concretizar o projeto Cinderela Shoes, que abriu oficialmente a 13 de junho de 2017. “Inicialmente, fiz algum estudo de mercado para perceber a oferta de lojas de calçado que me servisse, mesmo noutros países”. A pesquisa levou-a a fóruns e grupos onde encontrou outras pessoas com o mesmo problema.
“Cheguei a mandar vir sapatos de alguns sites da China, mas eram muito maiores do que aquilo que diziam. Diziam que era 32 ou que serviriam os meus pés, que medem 20,5 centímetros. No entanto, não funcionava muito bem e, além disso, tinham aquele cheiro de plástico, mesmo muito mau”.
No início, Teresa tentou que a confeção dos sapatos fosse efetuada, exclusivamente, em Portugal, mas rapidamente percebeu que não seria viável. “As fábricas nacionais não querem trabalhar com tamanhos pequenos e com poucas quantidades. Foi difícil encontrar uma fábrica, mas depois lá consegui arranjar alguém que quisesse trabalhar com estes tamanhos. A questão é que ficava caro”. A solução passou por uma parceria com uma fábrica espanhola, para garantir calçado acessível. “As ‘Cinderelas’ têm ‘várias profundidades de bolso’, ou seja, umas têm mais possibilidades do que outras. A minha ideia foi sempre conseguir chegar a todas”.
O projeto nasceu online e assim se manteve durante o primeiro ano. “Nessa altura, decidi abrir o primeiro showroom no Barreiro. Foi muito importante porque é lá que acontece o primeiro contacto das clientes com o calçado do tamanho dos pés, uma vez que as sapatarias normais, de rua, não têm esses tamanhos. Para elas, o momento em que vão ao showroom é a realização de um sonho”. O primeiro espaço a receber a Cinderela Shoes foi o Centro Comercial Diamante. Mais tarde, Teresa mudou-se para a Baía do Tejo, onde reúne hoje o armazém, o escritório e o showroom no mesmo local, com a vantagem de ter estacionamento à porta.
O crescimento da marca não se limitou à região. “Há muitas ‘Cinderelas’ no Barreiro, mas as clientes vêm de toda a parte de Portugal, desde Viseu ao Algarve. Também recebo mulheres que vêm passar férias a Portugal, como chinesas e inglesas, e passam cá para conhecer o espaço”. No que diz respeito ao nome, a escolha foi óbvia. “Tem a ver com a história da Cinderela, que tinha o pezinho pequeno, ao contrário de todas as outras. O sapatinho de cristal não servia a ninguém, exceto a ela, tal como acontece comigo e com as minhas ‘Cinderelas'”.
A oferta da loja, que funciona apenas por marcação, inclui essencialmente sapatos de salto, mas há mais variedade. “Temos saltos baixos, altos, cunhas, plataformas, sandálias. Só os completamente rasos é que não valem a pena, porque nós já somos baixinhas”, brinca. A acrescentar aos artigos disponíveis estão, também, as sapatilhas. “Temos dois modelos exclusivos, que não se encontram em qualquer outro espaço”. Os tamanhos vão do 32 ao 35 e os preços variam entre os 55€ e os 100€.
Apesar de ter realizado um sonho antigo, Teresa aproveita a experiência noutras áreas para alimentar o negócio. “Tudo me faz falta. Desde a informática, que está presente em tudo e, especialmente, para quem tem uma loja online, ao vídeo e à fotografia. A Cinderela Shoes é uma combinação entre a minha necessidade pessoal, a vontade inabalável de criar um espaço onde todas as ”Cinderelas” possam, finalmente, encontrar o sapatinho perfeito e as áreas às quais sempre me dediquei”.
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