O sotaque de Piero Coelho, de 35 anos, em conversa com a NiB, rapidamente denuncia as suas origens: nasceu em Registro, uma cidade quase na fronteira entre São Paulo e o Sul do Brasil, mas foi no litoral paulista que cresceu e começou a escrever a sua história. “O meu nome é italiano e foi escolhido pelo meu pai. Como tenho uma avó de origem italiana, acabou por fazer sentido”, explica.
A mudança de Piero para Portugal concretizou-se no final de 2022, mas era um sonho antigo. “Já tinha vindo para a Europa em 2017, com a minha mulher. Fizemos um tour que passou pelo País e gostámos muito. Ela é filha de um português, criado no Brasil, e, por isso, conseguiu a cidadania e tudo ficou mais fácil”. A adaptação foi natural: “Tinha muitos brasileiros aqui, a língua era a mesma, então não foi uma mudança muito fora daquilo a que estávamos acostumados”.
Instalado primeiro em Odivelas, em casa de uns amigos, rapidamente encontrou trabalho em Cascais, uma vez que “a barbearia brasileira é muito apreciada aqui”. Ainda por cima, Piero não é novo na profissão: “Sou barbeiro desde os 14 anos. Tenho uma família de barbeiros e foi o meu avô foi que consolidou este ofício na nossa história, em 1954. Ele dizia que era um trabalho sempre necessário em qualquer lugar do mundo. Hoje, somos dez homens e uma mulher barbeiros na família”.
Apesar de ter formação como técnico de segurança do trabalho e de quase ter concluído arquitetura, a paixão pela barbearia falou mais alto. Em 2017, ao lado do irmão, inaugurou, no Brasil, a barbearia 4Kings, um conceito pensado para representar quatro gerações da família. “Optámos pelo nome ‘Kings’ para simbolizar os reis da barbearia. O conceito teve muito sucesso e até inspirou outras barbearias no nosso bairro”.
Depois de seis meses a trabalhar em Cascais, surgiu a oportunidade de se mudar para Lisboa. “Sempre quis trabalhar na capital. O meu chefe tinha duas barbearias e, assim que houve vaga, fui transferido para lá. Trabalhei dois anos nesse espaço e aprendi muito sobre o que o público europeu procura na estética masculina”.
Entretanto, a vontade de construir raízes levou-o, juntamente com a mulher, a comprar casa no Barreiro. “O nosso objetivo era constituir família e ter uma experiência de vida fora do Brasil. Foi o meu cunhado que nos apresentou o Barreiro e o local onde hoje está a barbearia. Ele é que viu que havia um espaço para arrendar e que o senhorio queria alguém que montasse um negócio tranquilo, como uma barbearia”, partilha.
Assim, a King’s Place abriu, oficialmente, no passado dia 12 de abril, trazendo um conceito de barbearia moderna ao Barreiro. “Tenho especializações em várias áreas: cabelo afro, cortes old school, cortes modernos. No Brasil, fazia muitos cortes artísticos e personalizados para arquitetos, músicos, advogados. A ideia é criar cortes que reflitam o perfil da pessoa”.
Os serviços são variados e os preços adaptam-se à complexidade do trabalho. Na King’s Place, um corte simples tem um custo de 10€, enquanto que um mais elaborado, como degradê, está fixado nos 14€. Para cortes personalizados, com ou sem químicos, o valor será definido após uma conversa com o cliente, que é, como o nome indica, tratado “como um rei”.
Apesar de ter aberto há pouco tempo, o movimento indica que Piero fez a escolha certa. “Tem sido muito bom. Alguns clientes de Lisboa continuam a vir cortar o cabelo comigo, os vizinhos têm recomendado a barbearia a muitas pessoas e a localização é excelente, porque é uma zona de passagem e onde havia pouca oferta de barbearias”. Além disso, o barbeiro também olha para o futuro. “Há muitos empreendimentos previstos para esta zona, o que também fez parte da estratégia. Estou muito feliz com esta nova etapa”, conclui.
Carregue na galeria e veja algumas imagens da barbearia King’s Place.