Ao longo do tempo, Marta Ferreira conseguiu resumir as dúvidas dos seguidores — atualmente, cerca de 45 mil — numa só questão fundamental sobre os cuidados de pele. “Afinal, quais são os melhores produtos para mim?”, ouve diariamente a farmacêutica, de 32 anos, que encara a cosmética como uma ciência.
Após vários anos a descodificar rótulos de cremes, a fundadora do blogue “A Pele Que Habito”, criado em 2015, quis ir além de dar opiniões sobre certos produtos. A sua missão passa por usar estes conhecimentos para encontrar as fórmulas certas para as expetativas de cada pessoa.
A nova iniciativa da cosmetologista é a Abitat, uma plataforma nacional que pretende facilitar a compra de cosméticos. Ao entrarem no site, os visitantes terão acesso a uma rotina personalizada de skincare com base em vários fatores, como o tipo de pele, ingredientes, quantidade de produtos ou orçamento.
“É um projeto que resulta de quase uma década em que fui interagindo com os leitores do blogue e apercebi-me de que era uma dúvida comum à maioria”, explica Marta à NiT, destacando que tenta aliar “uma explicação científica” à visão “mais hedonista” que a caracteriza.
Em alternativa à tríade convencional para distinguir os tipos de pele (oleosa, mista e seca), “que não nos leva a lado nenhum”, a farmacêutica rege-se pela classificação de Baumann. Criada por Leslie Baumann, classifica a pele em 16 tipos diferentes baseando-se em quatro parâmetros principais: oleosidade, sensibilidade, pigmentação e propensão ao envelhecimento.
Assim que se entra na Abitat, o utilizador cruza-se com um quiz onde pode decidir se pretende que lhe seja recomendada uma rotina específica ou se, por outro lado, quer ver todos os produtos que poderão ter um efeito positivo no seu rosto, escolhidos por Marta e pela comunidade que construiu.
Ao todo, a base de dados já conta com quase 600 referências. “Tenho em conta produtos que acho interessante, por experiência pessoal, mas também tendo em conta a experiência que acumulei no mundo dos blogues e nas redes sociais, onde partilham comigo boas opções.”
A fundadora da Abitat destaca ainda a importância de ter um leque abrangente de preços, desde os mais baratos, com uma forte representação das marcas brancas de supermercado e de farmácia, onde a maioria dos seguidores adquire os seus cosméticos, até ao mundo da alta perfumaria. Uma das perguntas é precisamente onde prefere comprar estes produtos.
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A par destes detalhes, são feitas outras questões para perceber possíveis preocupações, existência de manchas, rugas ou vermelhidões, ou o estilo de vida da visitante. Se estiver grávida, por exemplo, existem produtos menos recomendados, como aqueles que incluem retinol.
Por fim, há uma secção onde é possível decidir quantos produtos quer integrar na sua rotina diária, seja uma rotina de 10 passos a uma abordagem mais simplista, que se pode resumir a um produto de limpeza, protetor solar e hidratante à noite, por exemplo. “Rotinas mais complexas não são necessariamente melhores”, diz.
Marta alerta, porém, que o objetivo da ferramenta não é substituir o aconselhamento profissional, mas ser um auxílio para incentivar a uma compra o mais autónoma, consciente e informada possível. “O quiz pode ajudar a perceber que dúvidas tem antes de se dirigir a uma dermatologista.”
Lançada há cerca de duas semanas, a Abitat ainda não permite a compra de produtos, mas o projeto irá continuar a crescer, alargando o número de referências disponíveis para consulta (e categorizadas em passos como “limpeza”, “sérum”, “hidratante” ou “esfoliante”) e dar origem a um marketplace.
“A cosmética tem origens farmacêuticas”
Marta estava prestes a concluir o curso em ciências farmacêuticas, quando se apercebeu que existiam poucas diferenças entre cosméticos e medicamentos, como uma pomada e um creme, por exemplo. “A parte da formulação de produtos de cuidados para a pele é bastante inspirada no mundo científico.”
Foi aí que percebeu também que o que aprendia nem sempre correspondia ao que era vinculado no mundo digital. “Percebi que tinha interesse em partilhar os produtos que gostava de usar e desmistificar crenças tão comuns”, continua.
Seguiu-se um mestrado e doutoramento na mesma área, assim como uma especialização em tecnologia Farmacêutica, Cosmetologia e avaliação de Segurança de Cosméticos. Nesta altura, já tinha começado a partilhar opiniões e sugestões no blogue “A Pele Que Habito”, que lançou em 2015.
A comunidade cresceu “de forma gradual, sobretudo nas redes sociais”, recorda. O boom dos blogues já tinha passado, o Instagram e§stava a escalar em popularidade e os vídeos eram partilhados por dezenas de milhares de pessoas, muitas delas com bastante influência digital.
Sem que desse por isso, Marta começou a ser chamada para entrevistas em programas de televisão e, em 2020, até chegou a lançar um livro, intitulado o “O Livro da Pele”, disponível online por 13,50€. A missão manteve-se: as preocupações com a pele não são fúteis e, mesmo quando usamos pasta dos dentes, champô ou gel de banho, estamos a usar cosméticos.
Os mitos da beleza
Desde o início do blogue, Marta tem sido bombardeada com preocupações com a segurança, sobretudo quando incluem sulfatos ou silicones. “Os artigos, para estarem no mercado, têm de ter um relatório de segurança. Alguns têm concentrações de certos ingredientes limitadas por mês.”
Outros mitos prendem-se com a crença de que uma rotina demasiado extensa é melhor, por influência do TikTok ou de tendências como a cosmética coreana, “que é falsamente retratada”. “Normalmente, o uso excessivo de cosmética pode desenvolver irritações e agravar patologias, como rosáceas.”
E, acima de tudo, destaca a importância da proteção solar. “O sol é o principal culpado de muitos problemas na pele. Mais do que usar protetor solar, que é quase um dos últimos passos, o melhor é evitar essa exposição”, acrescenta, sublinhando outros hábitos, como não fumar, reduzir no consumo do álcool, ter uma alimentação equilibrada e uma rotina de exercício físico.
Com o quiz e a base dados disponíveis, a Abitat vai crescer e ganhar novas opções. O objetivo é que, no futuro, os clientes possam receber a rotina diretamente em casa, mediante subscrição, ou serem guiados para um atendimento personalizado com um profissional, por exemplo.
Além disso, Marta não descarta a ideia de criar um clube de membros com mensalidade e acesso a conteúdos exclusivos, como workshops sobre a temática e outras iniciativas. “Vamos continuar a crescer”, conclui. Para fazer o teste e conhecer alguns dos produtos mais indicados para si, pode visitar o site da Abitat.
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