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A fábrica do Barreiro que faz mais de 200 mil formas para pastéis de nata (e não só) por ano

Com mais de 60 anos, o negócio é um dos mais antigos na cidade. O proprietário, Paulo Nogueira, contou todos os pormenores à NiB.
Tem um bocado de tudo.

Quando entrámos no número 45 da Rua Combatentes da Primeira Grande Guerra, no Barreiro, rapidamente nos apercebemos de que aquele espaço era mais do que uma simples loja de rua. Desde a porta de correr até aos utensílios de trabalho, tudo parecia fazer parte de outros tempos — e a verdade é que, neste caso, as aparências não iludiram.

Com as portas abertas desde 1960, a Soformas continua a dedicar-se à produção de formas de todos os tipos, seja para a confeção de bolos, pão de forma ou, até mesmo, para armazenar o açúcar, a canela ou o sal. No comando das operações está Paulo Nogueira, de 61 anos, atualmente reformado.

“Sou Camarro de gema”, começa por dizer, orgulhoso, antes de revelar que trabalha na fábrica desde a época em que completou 22 anos. “Na altura não havia muitas perspetivas para uma pessoa como eu, porque nunca fui muito fã da escola”. Depois da passagem por “vários trabalhos” — tendo chegado a ser soldador — Paulo cumpriu os 16 meses obrigatórios na tropa. Foi o sogro quem acabou dar um novo rumo à sua vida.

“Propôs-me que ficássemos com o negócio que, na altura, já funcionava, e pertencia ao Emídio Esteves, um senhor com uma certa idade, contabilista, que era muito conceituado e respeitado na cidade. Lembro-me de ter uma conversa com ele, na qual ele me disse: ‘Se o Paulo quiser, adapta-se a isto. É uma oportunidade de ter um trabalho”.

Apesar de a escola nunca ter sido um ponto de interesse, Paulo acabou por se apaixonar pela profissão. “O antigo dono ainda permaneceu cá durante algum tempo e ensinou-me algumas coisas sobre a parte do fabrico. No entanto, nessa altura, eu dedicava-me mais a visitar e angariar clientes e encomendas, enquanto os outros trabalhadores faziam as peças”. 

Cerca de 40 anos depois de ter chegado à Soformas, os desafios constantes continuam a marcar o funcionamento da fábrica. “Podemos ter um mês bom, e logo a seguir, outro em que não se passa nada e outro de dar em doidos com tanto trabalho”, explica. “Andamos sempre nisto, com o coração nas mãos”. Um exemplo disso é o processo envolvido em cada encomenda. 

“Depois de fabricarmos as peças, temos de esperar 30 dias para receber, entregar e, só depois, receber o dinheiro. Foi assim desde o início. Tenho dois ou três clientes que pagam um pouco mais cedo, mas é desgastante porque temos responsabilidades”.

Se quando abriu portas a Soformas contava com alguns trabalhadores, atualmente, Paulo tem apenas um colaborador, Nuno Barbosa, que vai trabalhando em formas para o conhecido pão de forma enquanto conversamos. Mas a fábrica produz mais peças, como a forma para o bolo de mel, da Madeira, formas para queques, empadas, tarteletes, entre outras. O material utilizado é, sobretudo, folha de flandres e, pontualmente, inox. 

O colaborador, Nuno Barbosa, na fábrica.

Um dos produtos mais fortes da fábrica é a forma para pastel de nata. “Produzimos bastante. Não chega, mas é o que sai mais. Chegam a ser mais de 200 mil por ano, pelo menos”. Apesar de ter poucos clientes no concelho, a Soformas já chegou a países como Austrália, Roménia, Bélgica, França e Nova Zelândia. “O Barreiro é só a sede. Esta janela que está aqui praticamente não abre”, brinca. 

No resto do País, conta com clientes de distribuição que armazenam e entregam aos seus contactos. “Não vamos à procura de clientes. Já temos alguns que trabalham connosco há muitos anos, com os quais podemos contar, que além de serem bons, pagam bem”.  

Apesar de se tratar de uma fábrica, qualquer pessoa pode encomendar diretamente. “Se vierem aqui ao balcão e quiser três ou quatro formas, ou até dez, não obrigo a comprar uma quantidade mínima. Porém, quando se trata dos clientes, tento que haja um mínimo, porque se não, não compensa. Às tantas, parece que não é uma fábrica, mas sim uma mercearia de esquina”.

Ainda que a idade que consta no cartão do cidadão permita que esteja reformado, Paulo continua a meter as mãos na massa e a trabalhar nas peças que, com toda a convicção, afirma que são fabricadas no Barreiro. “Estamos sempre ansiosos por receber encomendas e, quando chega uma, tenho de ajudar a despachar o trabalho”. No final, a NiB teve direito a um presente confecionado na hora: uma das famosas formas de pastel de nata. 

Carregue na galeria e veja algumas imagens da Soformas. 

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