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Fake Cakes: a tendência dos bolos falsos que está a tomar conta dos casamentos portugueses

Têm pelo menos uma fatia real, mas o resto é feito de esferovite. A NiT falou com uma das criadores destes fake cakes.

Chocolate, pão de ló ou red velvet. Redondo ou quadrado. As escolhas para o bolo de um dos dias mais importantes da vida de uma noiva são muitas e variadas, mas nunca ninguém pensou entre ter que fazer esta escolha: verdadeiro ou feito de esferovite? Sim, leu bem. Mónica Nogueira faz mais de 100 modelos de bolos de casamento por verão — e a maioria deles não é comestível.

O momento do corte do bolo costuma acontecer ao cair da noite, acompanhado por uma música especial e fogo de artifício. Os convidados juntam-se em frente aos noivos para assistir ao momento simbólico em que cortam a primeira fatia. O que muitos não sabem é que esse pedaço está assinalado e é, por vezes, a única parte verdadeira num bolo de três andares.

A tendência começou há pouco mais de dez anos, numa altura em que os casamentos começaram a tornar-se eventos cada vez mais elaborados. A escolha por modelos falsos permitiu que a peça principal da mesa se mantivesse bonita durante várias horas, sem riscos para a saúde dos convidados.

Mónica Nogueira, de 30 anos, formou-se em engenharia de polímeros e trabalhava na área quando a pandemia a obrigou, como a muitos portugueses, a ficar em casa. Aproveitou o tempo livre para fazer doces e começou a oferecê-los à família. A primeira aposta foram ovos de chocolate recheados, muito populares no Brasil, onde tinha vivido durante algum tempo. Com o sucesso, decidiu ser mais criativa e aventurar-se no cake design.

Criou uma página no Instagram com o nome Oficina dos Sabores e, em poucos meses, as encomendas começaram a crescer. Ao fim de meio ano já tinha uma boa carteira de clientes. Deixou o emprego e passou a dedicar-se a tempo inteiro à pastelaria. “Passados seis meses estava a abrir o meu atelier e nunca mais parei. Eu gostava do que fazia antes, mas sinto-me mais realizada com o que faço agora. Adoro poder usar a minha criatividade”, conta.

Foi também nessa altura que participou na Braga Noivos, uma feira especializada em casamentos. Lá conheceu os responsáveis por uma quinta de eventos, com quem acabou por fechar um contrato para fazer todos os bolos da casa. “Atualmente tenho duas áreas de trabalho, os bolos infantis e os de casamento”, explica.

Os bolos para miúdos tendem a ser mais simples, embora também exijam técnica. Já nos casamentos, Mónica prefere trabalhar com os chamados fakes, isto é, feitos com esferovite. “Um bolo com design é caro. Mas não é tanto se pensarmos no trabalho que dá. Se olharmos para isso e para a imposição da segurança alimentar é natural que se opte por estas versões”, afirma. “Não nos faz sentido ter um bolo de três ou quatro andares expostos no evento se não conseguirmos garantir que não se vai estragar ao calor. No meu caso, que só uso massas e recheios caseiros, sem conservantes ou corantes, é mais difícil garanti-lo. Por isso recorremos a este método”, acrescenta.

A pasteleira cria os modelos a partir das preferências dos noivos, usando esferovite como base. Depois cobre-os com os mesmos materiais usados num bolo real e trabalha o design. O doce que será servido é preparado à parte, mantido no frigorífico até ao momento certo e feito com os sabores escolhidos pelos noivos. No corte oficial, o casal encontra uma fatia assinalada — essa é comestível e Mónica recheia-a com Nutella, que suporta bem o calor e mantém a consistência.

A alternativa seria guardar o bolo no frigorífico até ao corte. Mas muitos casais não estão dispostos a pagar 500€ por uma peça que vai ficar escondida. Por isso, optam pelo fake cake. Isso não significa que o preço seja mais baixo. “O que acrescenta valor é o design e a mão de obra e isso é igual em todos”, explica Mónica, natural de Braga. Além disso, há o custo dos materiais.

Outro fator a ter em conta é o transporte. “No ano passado fiz um bolo cheio de flores de açúcar e demorei uma semana a fazer as flores todas, porque é tudo feito pétala a pétala. O valor era o mesmo para um fake ou um verdadeiro, mas transportar uma versão verdadeira com quatro andares não é o mesmo que levar um fake”, sublinha.

O valor depende do número de pessoas e da complexidade do design. Um bolo simples com cerca de 15 fatias custa à volta de 85€ na Oficina dos Sabores. Se tiver dois andares, pode chegar aos 150€, mas o preço varia consoante o pedido.

Mónica faz, em média, 15 bolos por semana. No verão, esse número aumenta, graças aos casamentos. A pasteleira bracarense trabalha com a quinta Paço da Comenda, onde é responsável por todos os bolos dos casamentos organizados no espaço.

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