Quando terminou o mestrado em Engenharia e Gestão de Tecnologia e, posteriormente, o doutoramento em Engenharia e Gestão Industrial, Miguel Amaral, 48 anos, não imaginava o que o destino tinha reservado. Concluídas as formações, o barreirense foi dar aulas no Instituto Superior Técnico, em Lisboa. Porém, um desafio inesperado levou-o entrar no mundo da cultura (que sempre esteve presente na sua vida) e das cervejas.
“A Inês Amado, proprietária deste prédio, queria desenvolver um projeto cultural e convidou-me para ajudar a programar eventos. Mais tarde, perguntou-me se conhecia alguém que quisesse arrendar o espaço do antigo café que aqui existia. Depois de algumas tentativas falhadas com outras pessoas, começaram a pressionar-me para avançar e eu, que não tinha nenhuma ideia de abrir um negócio, acabei por aceitar o desafio”, conta.
A inauguração aconteceu há cerca de oito meses, em maio do ano passado, e o nome O Espaço surgiu naturalmente. “Foi uma sugestão da Inês. Achei interessante porque tanto pode referir-se ao espaço físico onde estamos como ao espaço sideral. Dá para jogar com as palavras e criar ideias interessantes em torno do conceito. Mas, acima de tudo, queríamos que fosse um local de encontro, partilha e comunidade”.
Mais do que um bar, o Espaço foi pensado para ser um projeto cultural. Além da cervejaria, gerida por Miguel, existe uma galeria onde são organizadas exposições e, no andar de baixo, um salão para eventos. “Desde o início, que a perspetiva foi sempre comunitária. Temos organizado concertos de jazz, aulas de tai chi, apresentações de livros e leituras de poesia. Qualquer pessoa pode chegar com uma ideia e nós ajudamos a concretizá-la”.
Ainda que seja bastante comum chegar a um estabelecimento e pedir uma cerveja, no Espaço, o cliente encontrará opções diferentes do habitual, o que, segundo Miguel, exigiu mais trabalho junto do público. “Criar uma cultura de cerveja artesanal no Barreiro não é fácil. Muitas pessoas entram e pedem uma Sagres ou uma Super Bock. Quando dizemos que não temos, ficam surpreendidas e dizem que preferem ir a outro sítio. No entanto, nunca deixamos que saiam sem provar uma das nossas e, muitas vezes, acabam por descobrir algo que gostam”.
Miguel explica que a diferença das cervejas d’O Espaço está no “processo mais criterioso, na fermentação e nos cereais de maior qualidade, que dão origem a cervejas vivas”, que podem ir dos 2€ aos 6€ ou 7€, dependendo da quantidade pedida. A oferta inclui não só cervejas à pressão, como uma vasta seleção de garrafas, com opções exclusivas e raras.
“Tivemos recentemente uma cerveja belga, com o selo ‘Trappist’ que é considerada por muitos a melhor do mundo e é produzida num mosteiro. Em Lisboa, custa cerca de 25€. Aqui, vendemo-la por 16€, tentando equilibrar a qualidade com preços acessíveis e, também, adaptando os valores à população barreirense”, explica Miguel.
No que toca à comida, a carta d’O Espaço inclui os habituais petiscos, como o prego da vazia (6€), bifanas (4€), moelas caseiras (5€), tábuas de queijos e enchidos (15€) e empadas (1,80€). Além disso, Miguel destaca os hambúrgueres da marca Square Burger (8€), que “são quadrados, porque alguém assim o quis, montados por camadas e deliciosos. Temos opções variadas que vão desde o hambúrguer de frango com caril, até ao vegetariano”.
Ao contrário dos dias de semana, em que só abrem a partir das 17 horas, a aposta mais recente da cervejaria é servir almoços aos fins de semana, tentando sempre trazer pratos de todos os cantos do mundo ao Barreiro. “Queremos oferecer algo diferente. Por isso, temos pratos tradicionais de diferentes países, sempre feitos de forma caseira. Hoje, por exemplo, servimos caldo de mancarra, da Guiné-Bissau. Ontem, moqueca de camarão com robalo e corvina. Já tivemos cachupa e outras comidas africanas e pratos asiáticos. A ideia é trazer sabores autênticos”, conclui Miguel.
Se ficou curioso, carregue na galeria e veja algumas imagens d’O Espaço.