No Barreiro, o termo “camarro” é conhecido por (praticamente) todos aqueles que nasceram e cresceram na cidade. O mais provável é que haja mais do que um significado para a expressão, mas a teoria de David Ferraria, de 39 anos, parece fazer sentido.
“O que me contaram foi que esse era o nome que davam aos marinheiros e às pessoas que faziam a manutenção dos barcos, que residiam nesta zona do Barreiro e dormiam na areia da praia. Como esta areia é muito barrenta, passaram a referir-se a ela como ‘camas de barro’, dando, posteriormente, origem à expressão camarro”, explica.
Mito ou não, a verdade é que, em 2018, esta palavra tornou-se ainda mais especial. Nessa altura, o empresário decidiu, juntamente com o sócio, Telmo Batista, comprar o bar que, desde muito cedo, começaram a frequentar. “O Camarro era uma referência para nós. Foi o primeiro lugar onde eu e o Telmo saímos à noite, com apenas 15 anos. Tivemos a ideia enquanto estávamos noutro bar, a beber um mojito, a nossa bebida favorita”.
Apesar de o processo de negociações não ter sido fácil, a dupla de amigos que concluiu o 12.º ano de escolaridade, nas áreas de Desporto e Informática, não desistiu de ficar com o espaço e, assim, nasceu o Camarro Lounge, um bar de cocktails. De seguida, começaram as sugestões. “Muita gente pediu para trocarmos o nome, mas nunca cedemos, até porque sempre tivemos uma ligação forte com este bar”.
Depois de se tornarem proprietários do espaço, Telmo e David começaram a transformá-lo, de forma a que o Lounge refletisse aquilo que os dois gostavam de experienciar, enquanto clientes. Precisamente por esse motivo, os sócios pensaram em cada detalhe do espaço, desde a decoração ao mobiliário. “As pessoas não têm noção, mas tudo o que encontram aqui foi criado e construído por nós. Não tivemos sequer um designer gráfico. Desenhámos e mandámos fazer”, conta.
O conceito do novo Camarro teve como base “recuperar a identidade” da cidade e trazer de volta as noites “de sucesso e de harmonia” que David encontrou quando começou a explorar a vida noturna. “Na minha opinião, que cresci aqui, o Barreiro sempre foi uma terra sem donos e sem regras e a altura em que as coisas resultavam era exatamente quando essas regras existiam”.
A ideia foi, na altura, muito questionada pelas pessoas próximas de David e Telmo. “Diziam-nos que um bar de cocktails não iria resultar, que não teríamos clientes, que os preços eram muito elevados e que dávamos muita importância às regras. A verdade é que continuamos abertos até hoje”.
Entre as regras que diferenciam o Camarro, está a decisão de não ter serviço ao balcão. David explica que esta escolha está alinhada com o conceito de coquetelaria sofisticada, que exige atenção ao detalhe e uma preparação cuidadosa.
“Preparar cocktails é um processo que envolve fórmulas químicas e precisão. Não posso estar a preparar um cocktail enquanto um cliente pede uma cerveja ou um café ao balcão. É por isso que servimos exclusivamente à mesa, para garantir que cada cliente recebe o melhor”.
Outra decisão controversa dos proprietários foi estabelecerem um limite de seis pessoas por mesa. “As pessoas criticam mas não percebem que vai além de uma cadeira extra. Sem esta regra, perdemos controlo do serviço e a qualidade do ambiente. A porta está aberta para todos, mas temos de garantir que a experiência seja a melhor possível para quem vem. No máximo e, se possível, juntamos outra mesa”.
A experiência passa, como não poderia deixar de ser, pelos cocktails que, segundo David, são “cerca de 100”. O destaque vai para os mojitos (7,50€) e para os cocktails de autor, como o “Greenny” (8,50€), preparado com Jack Daniels e maçã e as margaritas (7,50€). Aqueles que prefiram uma opção mais “exótica”, podem pedir o Toffee Express (8€), feito com vodka e licor de café.
A carta inclui várias opções de vinhos e cocktails e bebidas sem álcool. No que diz respeito à comida, o ex-libris é o prego (8€) de bife da vazia, com manteiga de alho e bolo do caco. Para os fãs das sobremesas, David recomenda os crepes, que são um “sucesso” da casa.
Quem visitar o Camarro, encontrará um espaço com 180 lugares, divididos entre a sala principal e a zona da esplanada, mas não é tudo. Desde o verão do ano passado, o Lounge passou a ter, também, um rooftop, com capacidade para 70 pessoas sentadas e até 90 pessoas, no total, uma vez que David e Telmo decidiram, ao fim de seis anos, criar uma zona onde os clientes possam, entre outros aspetos, ser atendidos ao balcão e circular com as bebidas.
“O rooftop foi criado, principalmente, para dar ao Barreiro um sítio que não existia, um espaço onde o cliente possa dançar e conviver num ambiente mais selecionado. Às sextas-feiras e sábados à noite, temos cá um DJ e, quando chegar a primavera, vamos arrancar com os sunsets, ao domingo”.
Na área recentemente criada, a carta é mais reduzida, mas os preços serão exatamente os mesmos. Dos 100 cocktails, apenas 25 estão disponíveis e o mesmo acontece com a oferta de vinhos, que passa das 15 referências, no andar de baixo, para as cinco, no rooftop. Em termos de petiscos, o menu só inclui nachos, bolo do caco e tábuas de queijos e enchidos.
Com uma vista privilegiada para o rio e parque de estacionamento gratuito, o rooftop do Camarro encontra-se disponível para a realização de eventos privados, mediante marcação. Quase sete anos depois de abrirem o negócio, David confessa que o Camarro Lounge é, muitas vezes, visto como uma miragem: “As pessoas dizem: ‘Não pode haver um espaço assim no Barreiro.’ Mas porque não? Temos o único jogador de basquetebol português na NBA, artistas mundialmente conhecidos e treinadores de topo. O Barreiro tem gente incrível espalhada por todo o lado”.
Se ficou curioso, carregue na galeria para descobrir mais detalhes sobre o Camarro Lounge.
