Um Barreiro diferente. Foi este o ponto de partida da conversa da NiB com Ana Quintino, de 54 anos. Natural do Seixal, mudou-se para a cidade com apenas dois anos e nunca mais saiu. Hoje, considera-se uma “barreirense de corpo e alma”.
“A minha família é toda de cá. Eu acabei por nascer no Seixal mas depois regressámos ao Barreiro”, conta, fazendo uma viagem pelas memórias. “Antigamente, havia sítios muito giros na cidade que, se calhar, já nem existem. Espaços daqueles muito tradicionais, como eram as mercearias, as drogarias. O próprio mercado era diferente, ainda dividido em dois espaços distintos, um para o peixe e outro para a fruta, legumes e talhos, por uma pequena estrada”.
Era nessa rua que acontecia a venda ambulante. “Ainda me lembro das pessoas que vendiam produtos na rua. Os carrinhos de caracóis quando chegava a época, um pequeno mercado de rua que era feito, se não me engano, pelo menos às sextas e sábados. Era tudo muito personalizado e as pessoas conheciam-se umas às outras. Eu morava nesta rua, aqui junto ao mercado, e, portanto, tenho um carinho muito especial por este espaço”.
Apesar do gosto pelo comércio, o percurso académico levou-a para outra área: o Direito. Começou a estagiar por volta de 1996 e exerceu advocacia quase 30 anos, quando decidiu experimentar outro ramo. Foi nessa altura que o projeto de restauração começou a ganhar forma, um pouco inspirado pelo marido, José Luís Apolónia, de 60 anos. “Ele trabalha na área da restauração há mais de 20 anos, tal como a minha sogra tinha sido, ao longo dos quais explorou um espaço no Barreiro, o restaurante Mário Sem Espinhas. Quando o contrato do espaço não foi renovado, tivemos de repensar tudo”.
O novo caminho surgiu através de uma hasta pública no Mercado, ainda antes de o restaurante fechar. “No início, tivemos em conta a possibilidade de ficarmos com uma das bancas como uma brincadeira. No fim, acabámos por ficar com duas bancas, uma que serve waffles e outra, para a qual ‘transferimos’ o antigo restaurante do meu marido”.
Assim, o Mário 100 Espinhas acabou por dar lugar ao VerdeTinto100Espinhas. “’Mário’ era o nome do outro do espaço. O ‘100Espinhas’ foi acrescentado pelo meu marido e achámos que seria interessante trazer o nome para o Mercado, porque as pessoas já o conheciam. O ‘VerdeTinto’ está ligado à minha família materna, do norte de Portugal, mais concretamente da zona do Minho. Foi uma fusão entre a zona norte e Setúbal, onde estão as nossas origens”. A banca, onde é servida comida tradicional portuguesa, tem uma proposta diferente, também ligada ao nome: o vinho bebe-se em malgas.
Já a banca das waffles nasceu de uma memória afetiva. “A ideia surgiu numa viagem à Bélgica. Estivemos em Bruxelas e noutras cidades e, de facto, gostámos bastante de experimentar as waffles. Além disso, havia uma ligação quase emocional a uma senhora que as fazia, há muitos anos, aqui no Barreiro. Como sempre gostei muito de cozinhar, uma das minhas tias ofereceu-me uma forma para fazer waffles, quando eu era miúda, e nunca esqueci essa memória”.
Agora, há uma terceira banca a caminho: a Just My Burger, “prima da Just My Waffle”, brinca Ana. A aposta é conquistar o público jovem. “Inicialmente, este espaço era frequentado por pessoas com 40 ou 50 anos. Passado algum tempo, começámos a ver que as famílias vinham todas juntas e, sobretudo às sextas e sábados, este é um ponto de encontro de várias gerações. Como a oferta mais vocacionada para os jovens é inexistente ou muito reduzida, a ideia passou por aí, criar um espaço onde os jovens também se possam sentir bem”.
A Just My Burger terá uma identidade visual própria e produtos criativos. “São hambúrgueres artesanais que serão batizados com nome de elementos característicos da nossa terra. Vamos ter um que é o Catraio, que tem a ver com uma embarcação aqui do rio, mais pequena, que dava apoio às embarcações que faziam a navegação com mercadorias”. As batatas, servidas como acompanhamento, serão cortadas à mão, no próprio espaço, e os preços começarão nos 9€ ou 10€. Mas há mais.
A banca também contará com sobremesas (3,50€), diferentes das que pode encontrar no VerdeTinto100Espinhas. “Vamos fugir um bocadinho às sobremesas mais tradicionais e apostar mais naquilo que os jovens gostam. A mousse de Oreo e a mousse de manga, por exemplo, são dois pedidos feitos muitas vezes”. Além dos hambúrgueres, a cerveja será artesanal. “É de um produtor aqui da Península de Setúbal e será servida à pressão”.
Apesar de, inicialmente, a data de inauguração da Just My Burger ter sido marcada para a passada quarta-feira, 30 de abril, o apagão que abalou o País inteiro trocou-lhes as voltas. “Estava tudo preparado, mas as coisas acabaram por ficar em standby. Foi uma ligeira alteração de planos, porém, se aconteceu desta maneira, é porque tinha de ser”.
Quase um ano após terem aberto a VerdeTinto100Espinhas, Ana confessa que a ligação com os clientes tornou-se especial e que se sente “realizada”. Ainda assim, os planos para o futuro vão além da restauração.
“Um dos objetivos é promover eventos que possam trazer mais pessoas ao Barreiro, para, de alguma forma, poder ajudar a que a cidade chegue um bocadinho àqueles que são de fora”. Apesar da falsa partida, a Just My Burger já tem nova data de inauguração: quinta-feira, 8 de maio, a partir das 19 horas e o momento poderá ser assinalado com uma atuação musical, ainda por confirmar. A nova banca de Ana e José funcionará de acordo com os horários do Mercado.
